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Por Gazetaweb     |     22.07.2017 - 13H55
Ressaca do mar e erosão costeira provocam danos na orla urbana de Maceió

 

Ressaca do mar e erosão costeira provocam danos na orla urbana de Maceió

 Por Madysson Weslley | Portal Gazetaweb.com  22/07/2017 11h39 - Atualizada às 22/07/2017 13h08

As praias de Alagoas são conhecidas país afora por suas águas transparentes e de temperaturas mornas. Durante a maior parte do ano, o mar é convidativo e um mergulho se torna obrigação para quem é daqui e para os turistas que vêm visitar o estado. O calor domina as estações, mas quando o inverno é rigoroso, como o registrado desde o mês de maio, com chuvas intensas e quedas na temperatura, a paisagem muda. O mar fica agitado, a água turva e a ressaca provoca destruição.

O olhar mais atento de quem chega à capital, vindo do Litoral Sul, percebe que parte do calçadão que margeia a orla da praia do Pontal da Barra está intransitável. O lugar é bastante frequentado por surfistas, que buscam as ondas mais altas, e por pessoas que fogem das praias urbanas mais famosas de Maceió, como Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca. A infraestrutura, no entanto, é bastante precária. 

Com poucas barracas fixas, o que se ver principalmente no final de semana são banhistas que levam o próprio alimento de casa ou comerciantes que improvisam na areia um lugar para vender seus produtos. 

Muitos frequentadores se arriscam e precisam fazer verdadeiras manobras para ter acesso à areia. O problema é antigo, mas foi agravado ao longo dos últimos meses pelo avanço do mar, provocado, principalmente pela erosão e ressaca. 

Erosão e ressaca causam destruição na orla

Imagens: Gilberto Farias

De acordo com o diretor de Gerenciamento Costeiro do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Ricardo César, existem diversos aspectos que podem provocar os problemas registrados em parte da orla urbana da capital. Ele cita como exemplo a ressaca. "É um fenômeno meteorológico decorrente de tempestades em alto mar que são causadas pelas chamadas zonas de alta pressão. Isso acontece quando se tem chuvas fortes e massas de ar frio, que é mais denso e desce a procura de um lugar que tem ar mais quente chegando até a superfície do mar. Neste processo há liberação de muita energia e são formadas ondas mais fortes", explica. 

Durante os períodos de ressaca, a Capitania dos Portos emite alertas informando a população sobre os riscos de navegar com as ondas altas. O último boletim informou que o litoral alagoano estava com a maré alta a quinta-feira (20). Nestes períodos, há a orientação de que os pescadores evitem ir ao mar.

Prefeitura informou que realiza estudo para viabilizar reparos 

FOTO: Gilberto Farias

Paulário Francisco Santos, 64 anos, é morador do bairro de Ipioca e pesca há mais de 40 anos. Ele conta que já enfrentou várias ressacas, mas que este ano, elas têm acontecido com maior intensidade. "Por questões de segurança a gente não tem como trabalhar. A Capitania proíbe a entrada no mar. Quem se arrisca encontra muita chuva, vento e tempestade. É um risco. Hoje não faço mais isso, mas já cheguei a ficar a deriva algumas vezes até conseguir encontrar o rumo de voltar", relatou.

A Capitania dos Portos informa que é preciso redobrar a atenção durante a ressaca do mar. " Nas praias os banhistas devem ter mais cuidados, em virtude das condições de tempo, que aumentam a altura e a frequência das ondas. Recomendamos também, que as embarcações de pequeno porte evitem navegar no mar nestes dias, e que as demais embarcações redobrem a atenção quanto ao material de salvatagem, estado geral dos motores e casco, bomba de esgoto do porão, equipamentos de rádio e demais itens de segurança", informa o capitão dos Portos de Alagoas, Mário Márcio Cardoso Teixeira. Apesar das condições do mar ficarem diferente, o órgão informou que este ano não houve nenhum tipo de registro de acidente causado nos momentos de ressaca.

PREOCUPAÇÃO

Ricardo César contou que participou recentemente do Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro e que entre os estudiosos existe uma preocupação muito grande com as mudanças climáticas. "Esses eventos extremos estão acontecendo com maior frequência. Isso já é uma constatação. Tanto é que em um intervalo de dois meses nós tivemos cinco alertas de ressaca no mar. E essa ressaca é exacerbada com as mudanças de maré. Durante a maré alta nós temos uma incidência muito grande de energia sobre a costa causando uma série de transtornos, principalmente para as cidades costeiras", observa.

Parte do muro de contenção na orla da Ponta Verde está destruído 

FOTO: Gilberto Farias

O representa do IMA informou ainda que as cidades costeiras precisarão tomar medidas adaptativas urgentes. "Alguns estudiosos trabalham com a perspectiva de que em dez anos a elevação do nível do mar deve chegar a 45 centímetros. Os mais pessimistas dizem que o número pode chegar a 80 centímetros. Uma praia urbanizada não tem como recuar e formar outra praia. Se algo não for feito, o mar vai chegar nas ocupações. Por isso, é preciso buscar intervenções de engenharia nas áreas que estão ocupadas", informa Ricardo César. Ele diz também que a maioria das obras de contenção são do tipo muros verticais, bolsas de concreto, gabiões e enrocamentos. 

Apesar dessas obras, inicialmente, evitarem maiores problemas, durante o período de maré alta o mar avança e a parte recreativa da praia desaparece, causando sérios transtornos para cidades como Maceió, cuja principal atividade econômica é o turismo. 

"Outro problema sério são as drenagens urbanas e as galerias pluviais que aqui estão no nível do mar. Com a elevação desse nível, elas serão invadidas pela água e as drenagens urbanas vão sofrer problemas porque ao invés de sair, na maré alta a água vai entrar e provocar transbordamento na cidade. Além disso, haverá também a infiltração de água salina nos poços da região. No lugar que tínhamos água doce teremos água salgada", falou Ricardo. 

Mesmo com os problemas, praia do Pontal é bastante frequentada 

FOTO: Gilberto Farias

O litoral de Alagoas possuiu uma particularidade natural que acaba por resultar em maiores consequências provocadas pela erosão costeira, que é intensificada nos períodos de ressaca. "Nós não temos areia para formar praia. Não temos rios transportando areia. As praias são formadas de areia do continente, quando os rios trazem o material para o mar, mas aqui em Alagoas nós não temos esses rios. Não bastasse isso, o litoral alagoano é bastante vulnerável devido a quantidade de ocupações", disse.

Entre as medidas mais eficazes citadas por Ricardo César que seriam um paliativo para os problemas causados pela erosão costeira está o que ele define como engordamento de praia ou recuperação de praia com areia. "É quando se pega a areia no leito oceânico, draga e joga ela para a praia. Entretanto, além do custo alto para estas obras, aqui na região nós temos grandes bancos de Recife de Coral, o que faria com que a areia precisasse ser retirada a muito quilômetros de distância do continente", observa.

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável se pronunciou sobre as condições de alguns trechos da orla através de nota e informou que vai realizar um levantamento em toda a orla urbana para viabilizar os recursos destinados à recuperação do espaço.

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Prefeitura informa que irá fazer levantamento para iniciar recuperação dos locais

Gilberto Farias